Histórias de Moradores da Ilha do Governador

Esta página em parceria com o Museu da Pessoa é dedicada a compartilhar histórias e depoimentos dos Moradores do bairro.


História da Moradora: Rogéria Moreira de Ipanema
Local: Rio de Janeiro
Publicado em: 11/08/2003


 



História: Você abre uma janela e vê o Pão de Açúcar

História:

IDENTIFICAÇÃO
Meu nome é Rogéria Moreira de Ipanema. Nasci no Rio de Janeiro em 23 de fevereiro de 1960.

FAMÍLIA
Sou filha dos historiadores Marcelo Moreira de Ipanema e Cibele Moreira de Ipanema. Meu pai paulista e minha mãe nascida no Rio de Janeiro. Eu nasci em Copacabana, mas fui criada na Ilha do Governador. Tive uma rápida passagem no sítio onde meus pais logo que casaram foram morar. Quando todo mundo vinha morar no Rio de Janeiro, vinha para Copacabana, na época dos anos dourados, os anos 50, meus pais foram para um sítio sem luz. Trabalhando e pesquisando no Rio de Janeiro, mas moradores de um sítio. Sem luz, faziam de tudo. Inclusive a vida era rural, de melados, de farinhas e de uma produção realmente... Vegetais.

Meu irmão mais velho tem uma passagem de 10 anos pelo sítio. Estudou com minha mãe no sitio e entrou pela primeira vez na escola já no ginásio. Meu pai, Marcelo de Ipanema foi professor da UFRJ Ele é que tinha dado a primeira partida, do primeiro curso de Jornalismo em 1949, na PUC do Rio de Janeiro. A Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Ele se aposentou pela Universidade Federal, na Escola de Comunicação, na ECA. O sítio era em Tinguá. Na serra do Tinguá, aqui no Estado do Rio de Janeiro. Quando eu nasci, dois anos eu passei lá e logo eles logo mudaram para a Ilha do Governador. Então, isso também é uma história que faz parte dessa grande história também do geoambientalista que era papai, dessa idéia de pesquisa e noção de meio ambiente, e contato harmonioso com a Natureza.

FORMAÇÃO
O fundamental que era ginásio fiz na Ilha do Governador. Depois eu fiz científico na Tijuca e me formei na Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Escola de Belas Artes. Sou formada em Gravura, e fiz uma carreira de Artista Plástica. Depois retornei pra tirar o Mestrado e então me formei Mestre em História e Crítica de Arte, pela própria Escola de Belas Artes da Universidade Federal. Retornei, dei aulas há pouco tempo, e atualmente estou dando aula de Cultura Brasileira Contemporânea, na Faculdade de Comunicação e Arte aqui no Rio de Janeiro, criação e idealização de Marcelo de Ipanema, que fez a primeira faculdade de Comunicação particular no Brasil.

ATIVIDADES CULTURAIS DA FAMILIA
Lá em casa todo mundo sempre participou muito da produção deles, meus pais, em ajudar, em auxiliar, em datilografar. Meu pai escrevia tudo. Ele não era pessoa que ia para a máquina de escrever. Ele fazia toda a redação, toda a parte redacional dele, cartas, escritos, todas manuscritas. Isso passava para a máquina de datilografia e passava pelas mãos dos meus irmãos, que datilografavam esses originais e eram corrigidas lá em casa. Sempre foi. Na casa da Ilha do Governador sempre foi essa roda viva, de papai produzindo muito.

Mamãe também. Cibele produzia muito e não é à toa que hoje ela é...Uma carreira também que os dois fizeram conjuntamente. Ela atual presidente do Instituto Histórico do Rio de Janeiro, do qual eu sou a primeira secretária e essa produção toda sempre fez parte da nossa vida e até hoje. Agora nós estamos juntas no Instituto. Não são coincidências, mas as coisas foram caminhando sozinhas. Claro, com bastante influencia, com bastante integração e base, mas não que tivesse sido uma coisa simplesmente buscada pela mão deles. Eu fui me tornando artista, fazendo História da Arte e depois nos encontramos, nessa altura do campeonato. Mamãe acabando na História, no Instituto.

Então, essa parte toda, sempre fez parte da gente. A biblioteca – eles tem uma biblioteca muito grande, muito rica, especializada em História, Comunicação e Imprensa, da qual, a minha tese toda, toda a minha bibliografia, os 400 livros consultados saíram diretamente da biblioteca e dos jornais centenários. A minha produção é sobre a Caricatura na Imprensa, no século XIX. Nossos jornais humorísticos do Rio de Janeiro, da Corte, dos quais também temos os originais. Então foi uma pesquisa...Eu tenho os jornais que eram ilustrados pela gravura. Eu sou gravadora. Essa reunião toda na tese foi retirada dessa parte.Foram 672 páginas de dissertação. Já era um livro pronto. Era um doutorado.

CASARÃO DOS PRAZERES
Sobre o Casarão, eu vou falar paralelo porque o que está me voltando hoje... A minha volta aqui me faz retornar na memória o que foi e que foi muito. Eu me lembrei inclusive quando eles tinham acabado de adquirir a casa. Nós não conhecíamos. Eles tinham vindo com uma equipe de arquitetos. E tem uma curva aqui, que antecede a Almirante Alexandrino...Não tem uma curva? Bem próxima aqui à casa, que ao fazer a curva, você vê a casa bem solta no morro, um morrinho e ela ali toda soberana e eu me lembrei com mamãe agora. Falei: “Mamãe me lembro quando você me mostrou: Olha aquela casa. Você gosta dela?” Eu falei: ‘Eu gosto muito.” E aí ela:“Pois é, aí a gente vai fazer o ICI, o Instituto de Comunicação Ipanema.” Eu achei o máximo porque eu sempre gostei. Essa parte toda de história, mesmo que não tivesse – bom, influências teve claro – mas já era uma coisa também minha como a parte da Arte.

A História da Arte, a Arte com a História, a História da Arte... Eu fui por esse caminho. Eu já gostava muito, nesse tempo eu já fazia uma produção, começando meus bico de pena, minhas aquarelas, e foi quando inclusive eu fiz um bico de pena de toda a fachada daqui da casa, do ICI ainda com as árvores da época. Esse bico de pena eu tirei de uma fotografia. Porque a fotografia foi muito privilegiada, muito ampla, e então eu fiz olhando a fotografia que eu tirei.O original meu, a base da fotografia. Eu tinha 14 anos, mas me lembro de tudo. Os cursos que tinha. Quando eu podia, eu vinha. Às vezes acabava meus cursos lá na cidade, na Tijuca, no Centro e a gente vinha e se encontrava aqui depois. Papai tinha uma Kombi e a gente se reunia e descia. Vim visitar várias vezes.

Eu me lembro completamente. Agora, eu vim subindo Santa Teresa, falando nas coisas, a gente já veio rememorando a casa, as coisas. Eu gostava muito. Aquela escada da cozinha era a coisa que mais me apaixonava. Aquela escada maravilhosa. Estou mostrando para a minha filha agora, terceira geração que está vendo essa casa maravilhosa. Desde ontem eu falei: ”Olha, a gente vai visitar uma casa linda que foi do papai, do vovô Marcelo e da vovó Belinha – que é assim que ela chama a Cibele – e você vai gostar muito porque é um bairro lindo, Santa Teresa.” ‘Ah. Sim. A gente vai andar de bodinho?” Eu falei: “Não. Não. Dessa vez a gente não vai andar de bondinho.” Ela é uma que acompanha a gente como eu igualmente acompanhava meus pais. Então toda a visitação a pontos turísticos, a pontos históricos, a museus, ela vai. Eu tive essa mesma formação que eu estou passando pra ela. E isso foi muito saudável e isso faz com que a gente tenha uma memória realmente o que lembrar, o que saudar dessa minha vida até hoje. E da casa também. Ela era branca, as janelas eram azuis, por fora, externamente. Teve algumas... Bastante, aliás, modificações, com certeza também pelo estado em que talvez tenham encontrado a casa, bastante degradada. Porque ela realmente foi abandonada. Infelizmente ela não ficou mais nas nossas mãos, mas ela está linda.

Eu fui lá fora agora, tirei fotos de todos os ângulos. As paisagens que daqui se vê – se via e se vê – o sótão, você abre uma janela e você vê o Pão de Açúcar. A outra, o Corcovado. Quer dizer, os pontos da cidade maravilhosa do Rio de Janeiro. Daqui você vê a ponte Rio – Niterói, Niterói. Você vê o Rio de Janeiro todo. Isso era fascinante. Isso não esqueço. Trazia as minhas amigas aqui e as minhas amigas falavam: “A casa do pai da Rogéria, lá em Santa Teresa. Olha a casa. Vamos lá na casa.” Era uma casa que fascinava todo mundo . Era uma coisa... Até hoje. Ainda bem que teve um amparo da oficialidade, do Município, não? Fez essa parada no abandono e pelo contrario, agora a vontade é resgate. Parabéns.

AVALIAÇÃO DO PROJETO
Completamente sincero, porque a intimidade que eu tenho com a casa... Fiquei muito feliz de poder participar disso, porque é uma verdade, não é só um vislumbre de alguém que vê por fora, ou já viu algum dia. Nós vimos internamente, e produzimos alguns assuntos aqui dentro. Quer dizer, meus pais, mas a intensidade, a gente o tempo todo vivendo. Então, o apoio que eu pude dar, eu só fico muito feliz e parabéns a vocês.

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